quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Cão que parece ovelha?

Esse é o tom da notícia na sessão "Planeta Bizarro" do jornal online O Globo de hoje.

Atentem para a linguagem da notícia, acompanhada de uma foto que mostra a cena grotesca em que um animal (considerado) de estimação é finalmente resgatado, com sorte, ainda vivo, debaixo de 13 quilos de pelos. A imagem é a prova de um crime - de um, não, de vários: negligência, abandono, maus tratos.

O cão, porém, é que foi considerado bizarro, e não seu "dono". Ora, acredito eu que bizarro é o acontecimento; bizarra é a criatura que deixou isso acontecer a este ser vivo que dele dependia.

Notícia errada, dada na sessão errada, com o enfoque errado, usando a linguagem errada.

Só uma coisa não é bizarra nesta história, pelo menos pra mim: na Inglaterra, existe punição pra este tipo de crime. No Brasil, existe a lei 9506/98, mas as punições ainda continuam escassas.

Abaixo o link pra notícia.

http://g1.globo.com/planeta-bizarro/noticia/2011/08/veterinarios-removem-13-kg-de-pelo-do-cao-que-parecia-ovelha.html


terça-feira, 30 de agosto de 2011

O bicho era um homem



Acredito que muitos de nós tenham lido este famoso poema de Manuel Bandeira na escola. Ele exprimiu meu sentimentos, muito antes de mim, com o mesmo espanto, a mesma indignação pelo absurdo que era ver uma pessoa mergulhada de cabeça, com o corpo dobrado quase até a metade pra dentro de uma caçamba de lixo, revirando restos para procurar o que comer.

Acho que isso me aconteceu logo depois do traumático episódio do assassinato a sangue frio do bebê foca. Pois é, "minha nada mole vida" começou cedo...

Este é apenas o retrato de um sociedade que, se faz isso consigo mesma, que dizer aos animais...

Então, tá aqui, direto do túnel do tempo, que estranhamente permanece tão presente...

O Bicho


“Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.”

Manuel Bandeira

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Tudo começou quando eu era criança...

... frase clássica que abre qualquer sessão de psicanálise. Mas é verdade: por volta dos meus cinco ou seis anos, eu vi uma imagem na tv que mudou o mundo todo pra mim, a imagem de um caçador de focas, possivelmente no Canadá. Um bebê foca se aproximava desengonçado de um homem que parecia querer brincar com ele. Eis que, de repente, ele saca de uma picareta e dá na cabeça do bicho, que estribucha jorrando sangue.

Imagem forte? Desculpem, mas a maioria de vocês é adulta, vai saber como processar isso e logo vão até esquecer o que leram aqui. Imaginem agora uma criança de quase seis anos vendo isso na tv - e o consequente desespero de seus pais para desmentir a cena que eles não esperavam fosse aquela para uma criança em choque que chorava horrorizada.

Um simples descuido e pronto: o mundo não era o mesmo, os homens eram maus, matavam animais bebês a picaretadas. Imagina o que poderiam fazer comigo? Gente, que mundo era esse em que eu (acabava de me dar conta) existia?

E são quase três décadas e a caçada aos bebês foca ainda acontece no Canadá. A "justificativa" é a singular maciez de sua pele. Que na Pré-história tenhamos precisado usar peles de animais para proteger nossa própria pele, eu até consigo entender. Mas logo depois se percebeu que era possível se vestir com outros materiais, algodão, seda. Com os materiais sintéticos de hoje, não há justificativa pra usar nem couro de vaca em sapato. E olha que eu não sou vegana (nada contra, é só um esclarecimento, tenho queridos amigos veganos). Mas não precisa ser vegano pra entender que querer sapatos de pele de foca faz caçadores de bebês foca picaretarem esses animais até sua morte...



Animal lover

Tenho tentado explicar pras pessoas "de fora" da causa o que faço como voluntária, e a cada tentativa tenho ouriçado a curiosidade alheia. Ganho olhares compassivos - "coitada, a velha louca dos gatos" - ou raivosos - "sua elitista alienada, num país com tanta pobreza como o Brasil e você salvando bicho". Então, custou mas chegou: o blog que eu tanto queria escrever sobre minhas aventuras e desventuras neste planeta não só dos macacos, observando esse bicho estranho que somos nós, o Bicho-homem, enquanto trabalho resgatando animais vítimas de maus tratos e abandono.

O que me motiva a realizar este trabalho voluntário não é apenas o animal em si, mas uma reflexão ampliada sobre que cultura e que humanidade estão por trás de um animal que tenha sofrido violência. O que se pode dizer de uma pessoa que intencionalmente ateia fogo a um animal, amputa-lhe membros, obriga-o a ter ninhadas após ninhadas em fábricas de filhotes, abandona-o quando se muda de casa sem prover um novo tutor? Se, afinal, tratamos de maneira desumana a outros de nossa espécie, muitas das vezes nossos próprios filhos, pais, familiares, que dizer dos animais?

Resgatando animais, espero poder conseguir resgatar nossa humanidade.