Foi um tempo de
assombro e interiorização. Minha “fase ostrinha”, à qual meus
amigos estão acostumados, pois vez ou outra ocorre. Viver dói
bastante, maldita consciência.
Se eu já andava como
que pisando cacos de vidro ao ver pedintes maltrapilhos à entrada
das padarias; crianças vidradas em crack na Rodoviária do Plano
Piloto à luz do meio-dia; pessoas apagadas por bebida dormindo nos
bancos das paradas dos ônibus... ver um cão magrela, costelas
aparentes, revirando um saco de lixo; ver um gato que teve os olhos
perfurados, vagando pelas ruas, semi-morto; ver ninhadas
recém-paridas numa caixa de papelão, abandonadas para morrerem de
frio e fome... eu me calei diante do sofrimento de tudo que é vivo.
É esmagador.
“We're all mad
here!”, “Somos todos loucos aqui!”, dizia o Gato de Cheshire.
Eu quis gritar, eu quis
falar e chorei, até. Mas fui buscar um jeito de me desapegar da
minha própria dificuldade para trabalhar por quem não tem meio de
falar por si, de lutar por si. Se a gente pensa muito na própria
dor, é capaz de ficar louco. Pensar mais na gente que no outro nos
faz perder o sentido de porquê estamos aqui, e por que as pessoas
vivem do modo que vivem neste mundo. Não precisamos viver assim, não precisamos ser do jeito que somos, causando tanto sofrimento.
E não, eu não
voltaria atrás; não abriria mão da minha consciência. Vamos em
frente, com dor, lutar até o fim!
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