quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Sobre ratos e homens

Luís Antônio Giron é editor da seção Mente Aberta da Revista Época, mas eu nunca tinha visto um contraste tão grande entre o pensamento de um jornalista e o nome de sua coluna. Ele é do tipo que me deu daqueles presentes para reflexão, exatamente por ele mesmo não ter feito a reflexão dele, mas apenas ter repetido preconceitos, maus conceitos, o mais baixo senso comum.

Ele escreveu um artigo chamado Animais de superestimação (aqui) em que descarrega suas abobrinhas cínicas. Eu queria aqui comentar trechos de seu artigo. Vamos começar pelo título, Animais de superestimação. Eu até concordo que exista um problema psicológico na pessoa que distorce sua relação com um animal, transferindo a ele fantasias, pintando suas unhas, colocando perfumes franceses e roupas de grife, coisas do tipo, que tiram a naturalidade do animal e da própria relação bicho-homem. Mas se ele seguisse nessa linha, poderia até escrever um artigo de auto-ajuda. Porém, o subtítulo já anuncia que o show de horrores vai começar: Os mascotes conquistaram a humanidade e hoje gozam de mais vantagens que ela.

Mais vantagens? Em que planeta? No planeta em que existe um país como o Brasil, onde a pena por maus tratos a animais, quando o crime é denunciado e quando é devidamente apurado pelas autoridades competentes resulta na detenção de três meses a um ano, normalmente convertida em prestação alternativa, e aplicação de multinha pelo IBAMA?

Direito não é vantagem. Os direitos dos animais vieram, primeiramente, equilibrar nossa relação com o meio ambiente, e acabaram por nos fazer pensar sobre nossa própria humanidade – ou bestialidade.

Este é o mesmo mundo em que se fala cada vez mais de direitos humanos, e se age em prol de seu respeito e da punição ao desrespeito de seus preceitos. Mas ele diz: “o triunfo dos valores animais sobre os humanos (...) evidencia a queda iminente de nossos valores culturais”. Se ele tivesse acesso aos e-mails que as associações de defesa animal recebem diariamente de pessoas que encontraram bichos atropelados e abandonados, ou de pessoas que querem se desfazer de seus animais porque enjoaram deles, ou querem sair de férias, acho que ele entenderia que não existe triunfo nenhum de animais sobre homens.

Tem mais: “Imagino se todo cidadão paulistano tivesse o direito de defecar em público, acondicionar seus dejetos em sacos plásticos e jogá-los pelas calçadas – como o fazem os donos de cães e gatos”. Bem... a gente não precisa chegar tão baixo, não é? Os tutores de animais que não depositam o dejeto de seus pets no lugar adequado são mesmo mal educados, porém isso não é culpa nem do animal, nem do fato de terem um animal. A pessoa que suja as calçadas certamente tem higiene duvidosa dentro de sua casa.

“Não vai tardar que a prefeitura construa uma rede de banheiros públicos para animais. (...) Agora os pet shops e clínicas vendem um “kit cocô”, com um saco e uma pá de papelão, para facilitar o desserviço.” O tal kit é uma ótima ideia, aliás; excelente se for feito de embalagem biodegradável. O problema não é o kit; se o tutor o joga no meio da rua, o problema é de educação desse tutor.

“Daqui a pouco escreva o que digo: surgirão motéis e casas de swing para bichos.” Será que ele sabe que, independente desta alegoria, a maior parte das pessoas se ausenta da responsabilidade sobre a reprodução de seus animais? Acham uma covardia castrá-lo, mas não enxergam o sofrimento de entrar no cio e ser exposto a doenças sexualmente transmissíveis incuráveis? Sim, animais também as têm – post sobre isso em breve.

Perto do fim, ele fica indignado quando teve de desembolsar uma boa grana para tratar de seu animal doente. Ele encontrou “(...) veterinários que se ofendem se você não os chamar de “doutor”. E cobram o olho da sua cara e da cara de seu cão por qualquer cirurgia.” Veterinários fazem um curso chamado Medicina Veterinária, são médicos de animais, não são açougueiros. Médico de gente também não devia ser chamado de doutor, como todos sabem; é um costume que tem origem antiga. E é ótimo que a medicina veterinária esteja evoluindo a ponto de se especializar em várias clínicas, isso representa progresso tecnológico e científico, pois indica que pessoas estão aprofundando seus conhecimentos sobre os outros animais.

Luís Antônio Giron escreve às terças-feiras. Giron, por favor: não escreva nem às terças, nem em dia nenhum. Nunca mais.

3 comentários:

Lu Monte disse...

Esse aí deve achar normal uma mulher espancar um cão até a morte, ou uma agência publicitária distribuir pintinhos como brindes de fim de ano...

Anônimo disse...

Você deveria mandar isto para a revista na qual ele escreveu...

Juliana Silveira disse...

É assustador, né, Lu Monte?

Anônimo do Bem, acho que vou mandar sim...