terça-feira, 13 de setembro de 2011

Chorando a morte do bezerro

Todo ano é a mesma coisa. Mesma coisa? Acho que não, desde as últimas edições da Festa do Peão em Barretos, SP. Com a maior organização dos grupos de proteção animal, suas ações têm ficado cada vez mais profissionais. Este ano, lamentavelmente, houve a necessidade de sacrificar um bezerro que teve sua coluna lesionada durante a prova de uma "modalidade desportiva" chamada bulldog. Ele ficara paraplégico em decorrência desta lesão. Veja a notícia aqui: http://noticias.uol.com.br/cotidiano/2011/08/25/morte-de-bezerro-reacende-polemica-sobre-animais-no-rodeio-de-barretos.jhtm


Se você não sabe que prova é essa, explico: um peão (normalmente um homem bem robusto), sobre um cavalo, pula de sua montaria sobre um bezerro que é solto em uma arena. Imagine o desespero do animal fugindo de um homem lhe persegue implacavelmente até derrubá-lo. O risco está implícito, inclusive para o peão também. Mas nem o sofrimento do jovem animal,  nem o risco de morte e lesões de ambos os animais conseguem em momento algum fazer as pessoas pararem e repensarem os valores de uma cultura que não consegue correr o tempo e se reiventar.

Vou fazer uma analogia com a tourada, outra "modalidade desportiva" que tem o mesmo objetivo que os das festas de peão. Eu até entendo o que está por trás de uma tourada - obviamente não a apoio em nenhuma hipótese, mas compreendo que ela simboliza a luta do homem, supostamente racional, contra o animal, que representa seu lado instintivo. O curioso é o touro, o animal, o instinto, o baixo, o irracional, o ilógico já ter de vir para a briga prejudicado (sangram-no com algumas facadas antes de soltá-lo na arena), como que para garantir que o semi-corajoso toureiro o vença por fim. Na vida real, enfrentamos nosso lado além-razão de peito aberto, sem sedém, sem cortes, sem laço. Para encarar nosso lado mais primal, melhor seria bailar com ele num tango.

É difícil ter de fazer o exercício de ouvir o discurso antagônico, mas é preciso tentá-lo, porque quando controlo minha revolta e faço o exercício de buscar a lógica no discurso alheio, consigo perceber que ele só se constroi com justificativas falhas, que procuram manter na atualidade o pensamento e o comportamento saudosista de um mundo que não existe mais. A maioria dos produtores não produz sem mecanização; o trabalho animal já está superado na maior parte do mundo rural. O homem rural já é um bravo por si só, por enfrentar os elementos e sua imprevisibilidade, as deficiências das políticas agrárias, as injustiças sociais no campo, entre outros problemas. Sua festa de peão deveria mostrar, como troféu, não um animal morto, sacrificado por uma profunda estupidez, mas o fruto do seu labor de sol a sol.

Por uma festa de interior mais digna.

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