quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Um crime que esconde muitos outros

Um crime que acabou levando a outro. Dois jovens que supostamente iriam "sacrificar" uma cadela que estaria doente com uma arma calibre 22 acabaram discordando na hora da "execução" e um dos jovens acabou disparando contra o outro.

http://g1.globo.com/espirito-santo/noticia/2011/09/adolescente-de-15-anos-mata-menino-de-13-com-tiro-no-peito-no-es.html


É a síntese (infeliz) do que venho tentado demonstrar aqui no blog: a cultura de violência que está por trás de como tratamos os animais, que expressa nada mais, nada menos, do que nós próprios somos - ou temos sido.

Em primeiro lugar, destaque para o fato de que dois jovens tiveram acesso a uma arma de fogo, algo que jamais poderia estar disponível facilmente para ninguém, que dizer para dois garotos mal entrados na adolescência. Fruto da cultura de violência banalizada.

Em segundo lugar, o "sacrifício" do cão. Daí é possível ler este comportamento em várias camadas: uma, que o animal doente não mereceu a devida atenção da família por ele responsável. Que doença ele tinha? Era tratável? Por que não se tratou o animal? Se não havia tratamento, porque não eutanasiá-lo de maneira digna? A primeira resposta que me vem à mente para estas perguntas é que o animal não é considerado ser vivo, mas um objeto -- por isso que as pessoas dizem que são "donas" de seus bichos. A segunda resposta pode até ser que estas pessoas não tinham condoções financeiras para tratar o animal (muitas vezes essas pessoas não têm dinheiro nem pra custear seus próprios tratamentos de saúde) - e aí eu entro na outra camada de leitura possível deste lamentável fato: a falta de uma estrutura eficiente que cuide dos animais. Um centro de controle de zoonoses que possa se prestar a dar atendimento veterinário gratuito a pessoas carentes que sejam tutoras de seus animais. E por que não há uma estrutura como esta? Vamos descer à outra camada de leitura: a de que falta política pública focada na questão da responsabilidade sobre os animais.

Infelizmente, ainda na atualidade, quando se fala em meio ambiente, só se pensa em flora e fauna selvagens e exóticos. Pensa-se em Amazônia, em ararinha-azul. Mas não se pensa que meio ambiente é onde está nossa casa, a rua por onde andamos todos os dias, os pombos que comem do nosso lixo, os gatos de bueiro que caçam os ratos, os cães soltos na rua que se contaminam com leishmaniose. Tudo isso é também meio ambiente. É a fauna urbana, da qual os animais urbanos, inclusive os de rua, precisam ser vistos como parte integrante.

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