sexta-feira, 9 de novembro de 2012

O silêncio dos inocentes

Foi um tempo de assombro e interiorização. Minha “fase ostrinha”, à qual meus amigos estão acostumados, pois vez ou outra ocorre. Viver dói bastante, maldita consciência.

Se eu já andava como que pisando cacos de vidro ao ver pedintes maltrapilhos à entrada das padarias; crianças vidradas em crack na Rodoviária do Plano Piloto à luz do meio-dia; pessoas apagadas por bebida dormindo nos bancos das paradas dos ônibus... ver um cão magrela, costelas aparentes, revirando um saco de lixo; ver um gato que teve os olhos perfurados, vagando pelas ruas, semi-morto; ver ninhadas recém-paridas numa caixa de papelão, abandonadas para morrerem de frio e fome... eu me calei diante do sofrimento de tudo que é vivo. É esmagador.

“We're all mad here!”, “Somos todos loucos aqui!”, dizia o Gato de Cheshire.

Eu quis gritar, eu quis falar e chorei, até. Mas fui buscar um jeito de me desapegar da minha própria dificuldade para trabalhar por quem não tem meio de falar por si, de lutar por si. Se a gente pensa muito na própria dor, é capaz de ficar louco. Pensar mais na gente que no outro nos faz perder o sentido de porquê estamos aqui, e por que as pessoas vivem do modo que vivem neste mundo. Não precisamos viver assim, não precisamos ser do jeito que somos, causando tanto sofrimento.

E não, eu não voltaria atrás; não abriria mão da minha consciência. Vamos em frente, com dor, lutar até o fim!

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