terça-feira, 13 de setembro de 2011

A pobre louca dos gatos



-- Juliana, você não quer casar de novo?
Eu nem vi o que tinha me atingido: Como? Ah, bem, sim, por que não, né?
-- Você é sempre assim, feliz?
-- Ah... na maior parte do tempo acho que estou feliz sim -- e começo a me virar para a saída.
-- É que você está sempre sorrindo, você não se sente sozinha?
Como assim?!
-- Sim, eu me sinto sozinha, como qualquer outra pessoa, mas eu tenho muitas coisas para fazer, nem gasto muito tempo pensando nisso... -- e já estou quase de costas.
-- Os gatinhos dão muito trabalho, né não?
-- Sim, mas é um trabalho bom, eu me canso mas me divirto também.
-- Mas quando você tiver seus filhos, você vai ter que parar com esse trabalho né?
Pronto. Já me casaram de novo e já me arrumaram filhos. No plural. E me tiraram meus gatinhos. Isso é o mais cruel.
-- Não, não, não é preciso dar os animais quando se engravida, dá pra conciliar tudo, basta ter higiene, um mínimo de atenção com os cuidados básicos, vacinação, essas coisas...
-- Eu sei, eu sei. Mas você não vai ter tempo de cuidar de criança e de bicho ao mesmo tempo...
E agora eu sou uma idiota completa. Nunca desenvolvi polegares opositores.
-- Não, não é assim, ó... mas por que você tá me perguntando isso tudo?
-- Ah, porque eu te vejo todo dia, sorridente, mas fico pensando se você é sozinha, no seu apêzinho, com seus gatinhos.
A velha louca dos gatos.
-- Ah, não, não. Sabe... ok. Sim, talvez eu me case de novo se um homem aparecer para ser marido, e sim, eu quero ter filhos. Mas não sei se isso vai acontecer. Pode acontecer, mas eu não sofro pensando nisso todo dia, e pensar nisso nem é sofrimento. E a gente é um monte de coisa, não só uma coisa só. Quem casar comigo vai levar o pacote completo, é porteira fechada.
-- É, é bom pra distrair, né?
Coitada.
-- É, é. É bom sim... distrair... bem, até amanhã!
Apressei o passo o quanto pude pra me livrar da sabatina da casamenteira.

Mas o pior não é a indelicadeza de alguém me fazer perguntas tão pessoais assim, do nada. O pior é alguém pensar que eu, enquanto protetora de animais vítimas de maus tratos, faz isso por simples distração.

Um comentário:

Lu Monte disse...

Amiga minha acabou de dar à luz. É casada e tem dois gatos. Quando estava no início da gravidez, a faxineira disse "Você vai se livrar dos gatos quando o bebê nascer, né?". Claro que ela se livrou... da faxineira!