segunda-feira, 14 de maio de 2012

Ser mãe é cuidar



A maternidade é um sentimento que ultrapassa o fato de uma mulher ter um filho biológico. Ainda bem. Senão, não haveria tantas mulheres adotantes, tantas madrastas legais (as "boadrastas"), tantas mulheres que se dispõem a cuidar dos filhos de suas amigas, tantas tias que têm um amor incondicional e um cuidado dedicado aos seus sobrinhos... e tantas mulheres dedicadas a cuidar, seja do que for: cuidar de crianças abandonadas, velhinhos em asilos, doentes em hospitais, e animais abandonados.

Parece que a palavra pra definir este sentimento maternal é maternagem, a capacidade de se sentir e agir como mãe, mesmo não sendo uma mãe biológica. Felizmente, eu tive a experiência de ter tido uma enteada e enfrentar todos os dilemas (ou pelo menos, uma boa parte deles) que uma mãe enfrenta - embora com limites de ação e contra todos os estigmas sociais de ser uma "madrasta". Minha antiga enteada tinha uma mãe presente em sua vida à sua maneira, e ambas construíam e continuam construindo sua relação, e somente elas sabem a dor e a delícia de serem quem são uma para a outra. Bem assim, como todas nós, com nossas mães, enfim. Não vamos nos idealizar, nem às nossas mães, não é?

E tem as outras mães da natureza. Eu tive a oportunidade de ver uma gatinha que recolhi da rua, sem saber que ela estava prenha, ter sua cria na minha casa. Eu vi como ela mudou seu comportamento com a cria recém nascida, como ela falava numa linguagem completamente diferente (não era um miado, era mais um arrulhar), como ela lutava para dar conta das quatro bebês quando elas começaram a andar e a sair do ninho, encantadas com as descobertas; como ela as ensinou a desmamar - e quando ela não tinha paciência de lutar contra a carência de uma das filhas em particular, que insistia em continuar mamando mesmo quando já não havia mais leite e a filha já se tornara maior que a mãe... quando ela tinha que ralhar com elas e como ela às vezes corria para um cantinho, para ter aquele momento que toda mulher com filhos deseja ter (mesmo se sentindo culpada por este desejo!), nem que seja por alguns segundos: aqueles cinco minutinhos num cantinho isolado quando a birra fica audível até na China!...

Esta experiência me proporcionou, por contraste, a pensar nas mães animais humanas, mesmo nas que não têm filhos biológicos, como eu. É certo que os mamíferos têm uma relação com suas crias muito diferente das demais espécies, mas eu me surpreendo de reconhecer comportamentos iguaizinhos, tanto nas mães humanas quanto nas não humanas. Todo mundo que já teve bicho já teve esta experiência. Porque cuidado é a melhor palavra para definir o que é ser uma mãe. Basta pensar na mulher que é mãe e não tem cuidado: todo mundo diz que ela não é mãe, porque ela não cuida... uma mãe que não cuida é uma desnaturada. E essas, infelizmente, também abundam na natureza. Cuidar é o sentimento que nos permite nos ultrapassar e pensar no outro primeiro, dedicar-lhe nossa energia, revolucionar completamente nossas vidas, nossos projetos, nossos sonhos pelo outro.

Mais que isso, se é que é possível: ser responsável por uma vida. O peso desta responsabilidade é imensurável. Eu não digo peso como fardo, mas como valor, uma dignidade, que somente a humildade da maternagem nos permite mensurar.

E também me proporcionou uma justiça histórica comigo mesma: sim, eu também sou mãe. O sentimento de cuidado, o olhar cuidadoso que desenvolvi para o mundo que me cerca é o que me proporciona sentir como uma mãe. Não somente mãe de meus bichos, mas uma mãe para o mundo. Eu me sinto uma mãe para o mundo por causa do meu cuidar. E ainda bem que, como eu (e, certamente, melhor do que eu), muitas outras pessoas também o são.

Este post é uma homenagem não apenas às mães biológicas, que têm sua comemoração assegurada (seja por motivos comerciais, não interessa, o fato é que são), mas em especial às pessoas que cuidam de quem e do que quer que precise de cuidado. Cuidado é do que mais nosso mundo precisa nestes tempos...

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